Paul Gauguin foi um importante artista francês cujas experiências artísticas influenciaram muitos desenvolvimentos de vanguarda no início do século XX.
Pintor, gravador e escultor, sua obra foi classificada como pós-impressionista e simbolista. É particularmente conhecido por seu relacionamento tempestuoso com Vincent van Gogh e também por seu exílio no Taiti, na Polinésia Francesa.
BIOGRAFIA
Eugène-Henri-Paul Gauguin , nasceu no dia 7 de junho de 1848 na cidade de Paris, França. Seu pai Clovis Gauguin, era um aclamado jornalista em sua cidade. A mãe Alina Maria Chazal, era de ascendência peruana por parte de mãe. Era filha da líder socialista Flora Tristan, uma precursora feminista cujo pai fazia parte de uma influente família peruana.
Em 1850, com o golpe de Estado de Napoleão III, sua família mudou-se para o Peru, onde o pai planejava estabelecer um jornal, mas infelizmente o jornalista morreu na viagem, ficando a mãe de Gauguin com os dois filhos que passaram a viver com um tio na capital. Depois de quatro anos, a mãe voltou para Paris com os filhos Marie e Paul.
Aos 17 anos, Gauguin se alistou na Marinha Mercante e, durante seis anos, navegou pelo mundo.
Em 1867 sua mãe morreu deixando a guarda legal dos filhos com o empresário Gustave Arosa, que, após a saída de Gauguin da marinha mercante, garantiu uma posição para ele como corretor da bolsa. Foi ele que o apresentou à dinamarquesa Mette Sophie Gad, com quem Gauguin se casou em 1873.
Nesse período em que a família residia em Paris e ainda trabalhando como corretor da bolsa, foi capaz de proporcionar um estilo de vida confortável para a família de classe média, que passou a incluir quatro filhos e uma filha. A exposição de Gauguin à extensa coleção de arte de seu guardião, Gustave Arosa – incluindo obras de Eugène Delacroix e os principais artistas do Salon Francês, além de cerâmica de todo o mundo – contribuiu para o desenvolvimento de sua paixão pela arte.
Em 1876, sua pintura Paisagem em Viroflay foi aceita na exposição no Salão Anual Oficial de Paris. Nesse período até 1881, ele teve contato com obras dos impressionistas e adquiriu algumas pinturas de Paul Cézanne, Édouard Manet, Camille Pissaro e Claude Monet.
Por volta de 1874, Gauguin conheceu Pissarro e começou a ter aulas com o artista mais experiente, inicialmente lutando para dominar as técnicas de pintura e desenho.
Em 1880 ele foi incluído na quinta exposição impressionista. Ele passou férias pintando com Pissarro e Cézanne e começou a fazer progressos visíveis. Participou sucessivamente das exposições em 1881 e 1882. Durante esse período, ele também entrou em um círculo social de artistas de vanguarda que incluía Manet, Edgar Degas e Auguste Renoir.
Em 1882, quando o mercado de ações francês faliu, Gauguin perdeu o emprego na bolsa de valores, porém ele encarou como um desenvolvimento positivo, assim lhe permitiria passar a pintar com mais frequência. Na tentativa de sustentar sua família, ele procurou comercializar suas produções com negociantes de arte, porém não teve sucesso.
Em 1884, ele se mudou com sua família para Rouen, cidade localizada na Normandia, na França. Lá ele conseguiu um emprego em que trabalhou até o final do mesmo ano, logo viajaram para a Dinamarca, buscando o apoio da família de sua esposa. Mesmo perdendo seu emprego, o artista sentia-se livre para produzir sua arte, mas tinha que enfrentar a desaprovação da família de Mette. Em meados de 1885 ele voltou com seu filho mais velho para Paris.
Em 1886, Gauguin participou da oitava e última exposição impressionista, apresentando dezenove pinturas e um relevo em madeira entalhada. Percebeu que suas obras ganharam pouca atenção, por estar competindo com a gigantesca pintura de Georges Seurat – Tarde de domingo na Ilha de Grande Jatte . Um pouco frustrado, Gauguin começou a fazer vasos de cerâmica para vender. No verão ele fez uma viagem para Pont-Aven na Bretanha, uma região da França, para buscar uma vida simples onde tivesse menos gastos financeiros.
Em abril de 1887, depois de um inverno rigoroso, Gauguin navegou para a Ilha da Martinica, no Caribe francês, tinha a intenção de viver como um selvagem. Suas obras pintadas na Martinica, como Vegetação Tropical e A Beira Mar, revelam sua crescente saída da técnica impressionista. No final desse mesmo ano, ele decidiu retornar à França, Gauguin sentia-se mais seguro, carregando uma identidade exótica.
No verão de 1888, Gauguin voltou para Pont-Aven, procurando o que chamou de “um retorno racional e franco ao começo, ou seja, à arte primitiva”. Ele foi acompanhado por jovens pintores, incluindo Émile Bernard e Paul Sérusier, que também buscavam uma expressão mais direta em sua pintura. Gauguin deu um passo em direção a esse ideal a partir da pintura Visão depois do Sermão, uma pintura na qual ele usava planos amplos de cores, contornos claros e formas simplificadas. Gauguin cunhou o termo de Sintético – do grego Synthetism – para descrever seu estilo durante esse período, referindo-se à síntese dos elementos formais de suas pinturas com a ideia ou emoção que transmitiam, abandonando o impressionismo e partindo para o simbolismo.
Paul Gauguin e um grupo de artistas que se juntaram a ele nesse novo estilo, ficaram conhecidos como pertencentes à Escola Pont-Aven. Nesse estilo, os artistas começaram a ser decorativos nas composições e harmonias gerais de suas pinturas. Passaram a valorizar mais a cor, sendo ela o principal elemento. Gauguin atuou como líder desses artistas que os aconselhava afirmando: “Não copie muito depois da natureza. A arte é uma abstração: extraia da natureza enquanto sonha antes dela e concentra-se mais na criação do que no resultado final”.
Em 1888, Gauguin viajou para o sul da França, com destino à Arles, para atender a um apelo de Théo van Gogh que era um negociante de arte, pois ele lhe devia um favor e assim Paul aceitou ir morar por um período com o irmão de Théo, Vincent van Gogh. No início do mesmo ano, Vincent havia se mudado para Arles, na esperança de fundar lá, uma Colônia de Artistas, onde pintores com ideias semelhantes as suas, poderiam se reunir para criar uma nova arte expressiva. No entanto, assim que Gauguin chegou, os dois artistas frequentemente se envolviam em trocas “acaloradas” sobre o propósito da arte. O objetivo de ambos era criar um novo estilo que mostrasse um desenvolvimento individual e pessoal do uso de cores, pinceladas e assuntos não tradicionais que eram comuns ao impressionismo. Como em grande parte do trabalho de Gauguin desse período, o artista aplicou tinta espessa de maneira pesada à tela em um técnica grosseira, encontrou algo que se aproximava de seu crescente ideal “primitivo”. Sua pintura, Velhas Mulheres de Arles, podemos observar um exemplo desse período.
Gauguin planejara permanecer em Arles durante a primavera, mas os artistas não se entendiam e seu relacionamento com Vincent ficava cada vez mais complicado. Após uma discussão violenta entre eles, o que ele alegou ter sido uma tentativa de Vincent em atacá-lo, Van Gogh teria mutilado sua própria orelha esquerda com uma navalha. Com essa tragédia, Gauguin voltou para Paris, depois de uma estadia de apenas dois meses em Arles.
Nos anos seguintes, Gauguin alternou entre morar em Paris e na Bretanha. Em Paris, ele se familiarizou com os círculos literários de vanguarda de alguns poetas simbolistas. Esses poetas, defendiam o abandono das formas tradicionais para incorporar a vida emocional e espiritual interior, viam o que era equivalente nas artes visuais em sua obra. O crítico de arte Albert Aurier, o declarou como líder de um grupo de artistas simbolistas, e definiu seu trabalho como “simbólico, sintético, subjetivo e decorativo”.
Em 1889, depois de encontrar Pont-Aven cheio de turistas, o que o incomodou muito, decidiu mudar para a remota vila de Le Pouldu, na Bretanha. Lá, em uma busca intensificada pela expressão crua, ele começou a se concentrar nos monumentos antigos da arte medieval, cruzes e calvários, incorporando formas simples e rígidas em suas composições, como podemos observar em sua famosa pintura O Cristo Amarelo. Como sugere esse trabalho, Gauguin, começou a desejar um ambiente mais afastado para trabalhar. Depois de considerar e rejeitar o norte do Vietnã e Madagascar, solicitou uma concessão do governo francês para viajar para o Taiti.
Em junho de 1891, Gauguin chegou a Papeete, no Taiti e ficou encantado com o que viu. Desapontado com a extensão em que a colonização francesa havia realmente corrompido ao Taiti, ele tentou mergulhar no que acreditava serem os aspectos autênticos da cultura.
No período em que esteve no Taiti, ele passou à nomear suas obras com títulos taitianos, como Fatata te miti ou Near the Sea e Manao tupapau conhecido como “O Espírito da Vigília dos Mortos”. Usou a iconografia oceânica e retratou a imagem idílica, com paisagens e cenários espirituais sugestivos.
Em 1893, Gauguin retornou à França, acreditando que seu novo trabalho lhe traria o sucesso que há tanto tempo lhe escapava. Em 1894, ele concebeu um plano para publicar um livro sobre suas impressões do Taiti. Intitulado Noa Noa, foi todo ilustrado com suas próprias xilogravuras. Esse projeto culminou com uma exposição individual de suas obras na galeria do Marchand Paul Durand-Ruel, mas teve pouca aceitação. Decepcionado, resolveu voltar ao Taiti, deixando a França definitivamente.
Em 1897, Gauguin alcançou sua expressão máxima demonstrada em sua principal obra criada no Taiti – De onde viemos? O que somos? Onde estamos indo? Uma enorme contemplação da vida e da morte contada através de uma série de figuras, começando com um bebê e terminando com uma velha encolhida, a obra é cercada por uma aura poética onírica e extraordinariamente poderosa. Declarou: “Eu acredito que esta tela não só supera todas as minhas anteriores, mas que eu nunca farei nada melhor ou até mesmo outra imagem semelhante”
O ARTISTA E SUA FAMÍLIA
Com a esposa oficial Mette-Sophie teve cinco filhos, sendo quatro homens e uma mulher. Gauguin sobreviveu a dois de seus filhos. Aline morreu de pneumonia e seu filho Clovis morreu de uma infecção no sangue após um procedimento cirúrgico. Emile trabalhou como engenheiro de construção nos Estados Unidos e está sepultado na Flórida. Jean Rene, também artista como o pai, tornou-se um escultor conhecido. Ele morreu em 21 de abril de 1961 em Copenhague. Paul Rollon, conhecido como Pola, tornou-se crítico de arte e escreveu um livro de memórias: Meu pai, Paul Gauguin editado em 1937.
Tekha’amana, um capítulo à parte
No Taiti, Gauguin conheceu Tekha’amana e ficou completamente cativado pela linda nativa a quem passou a chama-la carinhosamente de Tehura. Casaram-se seguindo as leis da Ilha onde o união poderia ser rescindida unilateralmente, tanto pelo marido quanto pela esposa. Os nativos também costumavam considerá-lo um fenômeno temporário, para que, a qualquer momento, eles pudessem retornar às casas dos pais e encontrar um novo companheiro entre os visitantes ou casar com uma outra pessoa do local. Curiosamente, de acordo com as tradições locais, Tekha’amana tinha dois pares de pais (biológicos e adotivos), e Gauguin teve que se apresentar e pedir autorização a ambos os pais de Tehura . Podemos perceber isso, através da pintura “Os Antepassados de Tekha’amana”, onde ele registrou, Tekha’amana tem muitos pais .
Tehura era implicitamente obediente a todos os seus desejos. Era tolerante e o mais importante, ela não era como nenhuma mulher que o artista conhecera antes. Talvez tenha sido esse exotismo que se tornou a característica mais atraente de Tehura para o artista. Claro, ele estava apaixonado por sua ninfa. Por algum tempo, ela se tornou sua musa inspiradora, a personificação de seu sonho de uma esposa humilde e apaixonada. Ele escreveu com entusiasmo sua amada, ouviu-a recontar lendas locais, desfrutou de sua beleza e trepidação juvenil. Logo ela dera a luz a um filho dele. Por um curto período, Gauguin precisou viajar para Paris para tentar vender suas pinturas. Ao retornar ao Taiti e para a sua Tehura, ela se recusou a aceitá-lo, rejeitando todos os seus presentes. No entanto, o artista sofreu por pouco tempo com isso e logo se consolou nos braços de outras morenas exóticas. Acredita-se que Gauguin tenha casado com outras nativas e com elas teve mais três filhos.
LEGADO
OBRAS CITADAS
Velhas Mulheres de Arles – Essa pintura retrata um grupo de mulheres que se deslocam por uma paisagem achatada e arbitrariamente concebida em uma procissão solene.
ARTE COMENTADA
Mulheres Tomando Banho em Dieppe – Essa pintura foi feita no período em que Gauguin morava em Dieppe, na costa do Canal da Mancha, foi exibido na 8ª Exposição Impressionista de 1886. A composição baseada em uma faixa horizontal e suas figuras simplificadas com contornos grossos, demonstra a necessidade que ele tinha em se distanciar do estilo impressionista.
Les Alyscamps ou As Três Graças no Templo de Vênus– Com suas massas justapostas e eclosão, essa pintura é característica do sintetismo de Gauguin. As pinceladas, seguindo o estilo de Cézanne, permitiram-lhe transcrever o motivo sem imitar o mundo real. Os tons altamente saturados também são uma interpretação subjetiva e decorativa da paisagem. Essa visão serena de Les Alyscamps contrasta com as composições contemporâneas atormentadas que Van Gogh pintou do mesmo local.
Retrato de Van Gogh – A primeira impressão de Vincent ao ver essa pintura, foi a de que Gauguin o descreveu como um louco. Mais tarde, ele suavizou sua visão em uma carta ao irmão Théo:. “Meu rosto se iluminou muito desde então, mas era de fato eu, extremamente cansado e carregado de eletricidade como eu estava na época”.
A Bela Angele – Essa pintura foi adquirida por Edgar Degas, em um leilão organizado por Gauguin para ajudar a financiar sua viagem ao Taiti. A modelo que foi utilizada para esse retrato que está com um traje típico bretão, foi Marie-Angèlique Satre.
Autorretrato com Halo – Essa é uma das pinturas mais importantes e radicais de Gauguin. O artista se mostra com uma auréola, sem corpo somente com uma mão e uma cobra inserida entre os dedos que flutuam em zonas amorfas de amarelo e vermelho. Os elementos da composição, acrescentam uma inflexão irônica e agressivamente ambivalente que nos apresenta sua superioridade artística, fazem dele o precursor de um novo olhar estético.
A Grande Árvore – Ao chegar ao Taiti em junho de 1891, Gauguin estava interessado em observar e entender a vegetação local. A grande árvore mencionada no título desta pintura é a árvore hotu à esquerda. O trabalho é impregnado de cores intensas e oníricas, em uma composição altamente decorativa, organizada em torno de linhas curvas e exuberantes que transcendem o topográfico.
Paisagem do Taiti – Gauguin foi tocado pelo silêncio incomum e pela atmosfera da eternidade desse lugar. A atmosfera pacífica invade a composição ampla e inclui poucos elementos. Sugerida pela pequena figura solitária, as proporções são imensas, diante da luz e profundidade. As harmonias coloridas, a sucessão de curvas e a extensão das superfícies, caracterizam seu estilo.
Mulher Taitiana e Duas Crianças – Essa composição lembra a imagem cristã comum da Virgem Maria com o Menino Jesus e o jovem São João Batista, embora aqui o filho mais velho seja presumivelmente a menina no canto direito da tela. Possivelmente, o menino que está retratado no colo da mulher pode ser o filho do artista, nascido de sua amante tahitiana Pahura. O garoto recebeu o nome de Emil, em homenagem ao filho mais velho e legítimo do artista. A mulher mais velha pode ser a avó do materna do menino.
Girassóis em uma Poltrona – As primeiras naturezas-mortas realizadas por Gauguin foram pintadas na Bretanha entre 1888 e 1890. Georges Wildenstein, em relação a esta pintura, refere-se a uma carta de Gauguin a seu amigo, o escultor Daniel de Monfreid, datado de Outubro de 1898, no qual ele pede sementes e bolbos para o seu pequeno jardim. Seu olhar de pintor ficou encantado e inspirado por esses girassóis cultivados por ele, como evidenciado pelas quatro naturezas mortas de girassol feitas em rápida sucessão no Taiti em 1901. Para ele, cujos pensamentos sempre voltavam do Taiti e para a França, os girassóis sempre remetes às lembranças de Van Gogh e a estadia em Arles em 1888.
Autorretrato com Óculos – Gauguin se retratou inúmeras vezes. Esse é seu último autorretrato que pintou no mesmo ano em que falecera. Escreveu: A vida não passa de uma fração de segundo. Tão pouco tempo para se preparar para a eternidade!
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