Abaporu – Tarsila do Amaral

Abaporu, de Tarsila do Amaral, é uma das pinturas mais importantes do modernismo brasileiro e a mais conhecida mundialmente.

 

HISTÓRIA 

Tarsila resolveu no dia 11 de janeiro de 1928, aniversário de Oswald de Andrade, na época seu marido, o presentear com a pintura que terminara de executar.

Muito impressionado com a obra, Oswald comentou com o poeta Raul Bopp (1898-1984): “É o homem plantado na terra”. Muito discutiram sobre a pintura ainda sem título. Eram unânimes em achar que aquele era um ser originário da terra, vindo do mato, um antropófago. Recorrendo ao dicionário tupi-guarani pertencente ao pai de Tarsila, escrito pelo , padre jesuíta Montaya Antonio Ruiz , chegaram a Abaporu, “homem que come carne humana”.

O Manifesto Antropófago escrito por Oswald de Andrade pouco depois

A Negra. Tarsila do Amaral. 1923 – Óleo sobre Tela (100×81,3) – Acervo do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo

estabelece as bases do movimento que ali nascia. Nele, o poeta apresenta a antropofagia como metáfora do processo pelo qual o homem americano, para a formação de sua própria cultura, “canabalizara”, digerira e assimilara de acordo com moldes próprios a civilização européia.

Embora o Abaporu inaugure a Fase Antropofágica  de Tarsila, não foi a primeira obra que abordou suas preocupações com a emergência de forças míticas e a busca de raízes profundas. A Negra  antecipa esses aspectos em termos conceituais e formais em cerca de cinco anos.

Tempos depois, uma amiga de Tarsila lhe confidenciou que as pinturas antropofágicas a lembravam de seus pesadelos, e a partir daí a pintora identificou a origem da obra. A artista descrevia o Abaporu como “uma figura solitária monstruosa, pés imensos, sentada em uma planície verde, braço dobrado repousando num joelho, a mão sustentando o peso-pena da cabecinha minúscula, em frente a um cacto explodindo em uma flor absurda”. Tarsila relacionava esse personagem ao das histórias que as pretas velhas da fazenda lhe contavam repetidas vezes à hora de dormir quando era criança. Eram histórias sobre uma sala sempre fechada, com uma abertura no forro, de onde se ouvia: “Eu caio, eu caio”. E caia um pé, que a menina imaginava enorme; “eu caio”, e caia outro pé. “Eu caio!”, e aparecia uma mão, e depois a  outra, e o corpo inteiro.

Abaporu. Tarsila do Amaral. 1928. Óleo sobre Tela (85×73) – Acervo do Museu de Arte Latino Americano de Buenos Aires (Fundación Constantini – Argentina)

O Abaporu apresenta a mesma hipertrofia de perna e braço que A Negra, e se integra à paisagem mais do que ela. O pé enorme compensa seu precário assento em pose de pensador, capaz de tanta tristeza a ponto de atrofiar a cabeça e o braço que a sustenta. Imobilizado pelo desequilíbrio entre seu gigantismo e seu acanhamento, necessita de cacto, necessita do cacto e do sol para manter uma relação estável com o conjunto.

 

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