Biografia de Salvador Dalí

Salvador Dalí, artista central do movimento surrealista, foi na verdade um gênio brilhante, de quem a modéstia parecia querer distância.

Excêntrico, extravagante, egocêntrico, provocador, polêmico. Não há adjetivos suficientes para definir um dos pintores mais populares e controversos do século XX.

Dalí, sua obra e sua vida,  confundem-se entre o artista e o personagem que ele mesmo criou. Aos 5 anos, esse catalão universal queria ser cozinheiro; aos 7, desejava ser Napoleão I; ao completar 16, porém, seu futuro estava decidido: “Serei um gênio”.

“A cada manhã, ao acordar, sinto um prazer supremo; o prazer de ser Salvador Dalí.”

Salvador Dalí  i Domènech nasceu em 11 de maio de 1904, em Figueras, Girona, próximo da Costa Brava catalã. Era filho de Salvador Dali Cusi, escrivão do povoado, e Felipa Domènech Ferrés.

A criança Salvador Dali

Embora considerado um gênio desde criança, Dali nunca foi um bom aluno na escola. Dispensava as aulas teóricas e preferia desenvolver sua genialidade nas telas. O artista começou a pintar aos 10 anos, e aos 13 ingressou na Escola Municipal de Desenho para aprender as técnicas de pintura e escultura.

Durante as férias de 1916 descobre o impressionismo, estilo que marcará sua pintura nos próximos anos. Começa a ter aulas de desenho com o mestre Juan Núñez. Em 1919 participa pela primeira vez de uma exposição artística.

Em 1922, um ano depois da morte de sua mãe, Dali foi aceito na Escola de Pintura e Escultura da Academia de São Fernando, em Madri. Na residência estudantil, conviveu com um grupo de intelectuais emergentes, como Luís Bunuel e Federico Garcia Lorca. Este último nutriu um amor platônico por Salvador Dalí durante anos. Nesse período, inclina-se para o cubismo de Gris e para a pintura metafísica de Giorgio de Chirico. Em 1925, faz sua primeira exposição individual em Barcelona.

Federico Garcia Lorca e Salvador Dali. Madrid, 1922

Em 1926, o artista foi expulso da Academia por recusar-se a fazer o exame oral final, sobre o italiano renascentista Rafael. Prepotente ele disse à época que não faria o exame porque sabia muito mais sobre o artista que os próprios examinadores.

Durante os anos em Madri, Dalí leu A interpretação dos sonhos, de Sigmund Freud. Interessou-se pelo desenvolvimento da personalidade de acordo com as etapas psico-sexuais (oral, anal, fálica, latente e genital), refletidas na pintura do artista a partir de 1927. Desde então, passou a viajar muito e fez sua primeira visita a Paris em 1928, onde conhece os surrealistas.  Concebe o seu primeiro quadro surrealista: O jogo lúgubre. Estreia de Um cão andaluz, filme que fez com Buñuel.

Quando se estabeleceu em Paris,  travou inúmeros contatos, sendo um deles com o poeta Paul Éluard, que fazia parte do grupo dos surrealistas, casado com a russa Helena Ivanovna Diakanova, a famosa Gala, com quem teve uma filha, Cécile, muito maltratada pela mãe, que abominava a maternidade. Até então, ele não tinha tido nenhuma relação amorosa com uma mulher. Embora negasse, mantinha uma relação homoafetiva com o poeta andaluz, Gabriel Garcia Lorca, obcecado por ele, havendo provas claras de tal relacionamento. Dalí alegava não ter tido nenhuma relação com uma mulher, porque ainda não encontrara a “fêmea” idealizada: jovem, de costas e formas perfeitas, não se importando se ela fosse bonita ou feia, ou em que lugar fosse encontrada. E foi justamente em Gala, dez anos mais velha do que ele,  encontrou a sua tão sonhada musa, amiga, amor, incentivadora, marchand e dominadora mulher.

Dalí e Gala Éluard , se casam no civil em 1934. Viveram durante 53 anos, além de ser sua mulher, foi sua grande musa inspiradora.

A partir de 1937 apresenta seus primeiros objetos surrealistas como alternativa para ganhar dinheiro. Em 1939 é expulso do movimento surrealista. Críticos seus diziam que devotava maior amor ao dinheiro que ao Surrealismo, pois seria capaz de ser reconhecido em qualquer manifestação pictórica, mas preferiu uma que lhe desse fama e fortuna. O ensaísta francês André Breton criou o anagrama Avida Dollars para defini-lo.

Em 1938, Dali conheceu Freud pessoalmente em Londres, pouco antes da morte do psicanalista.

Em 1940, com o avanço das tropas alemãs, o casal partiu para os Estados Unidos. Publica sua primeira biografia em 1942, ao mesmo tempo que sua fama se consolida. Colabora em vários projetos cinematográficos.

Comovido pela tragédia de Hiroshima, inicia o chamado estilo atômico. Gala e Dali voltam à Espanha em 1948 e se instalam em Port Lligat. Retoma as influências acadêmicas e admira a pintura de inspiração religiosa.

Em 1955 combina sua busca pictórica aos aspectos comerciais, como os retratos de personalidades do universo de celebridades.

Em 1958, Gala e Dali se casam em 8 de agosto em cerimônia católica. Em maio de 1959 o casal é recebido pelo Papa João XXIII no Vaticano.

Adepto do luxo, o artista adorava a cor dourada e tinha paixão por roupas. Outra paixão era sua mulher Gala Éluard, também detentora de uma extravagância singular. A esposa sempre cuidou da vida e da dele, além de receber os créditos pela saúde mental do marido.

A partir de 1961, Dalí acompanha com interesse os avanços e tecnológicos e procura uma interpretação pictórica para eles. Ao mesmo tempo, explora sua força comercial ao desenhar joias e perfumes.

Em 1974, é inaugurado o Teatro Museu Dali, em Figueras. Após a inauguração, o artista recebe várias distinções internacionais, além do título de Marquês de Pubol, concedido pelo rei espanhol.

Paul Eluard

Em 1982 é inaugurado o Museu Dali em St. Petesburg, nos Estados Unidos. Nesse período estavam o casal então muito doentes. Em 10 de junho morre Gala e o pintor cai em depressão. Desiludido, o pintor decidiu se enclausurar em seu Castelo de Pubol, em Figueras, de onde só saiu em 1984, depois de um incêndio que quase o matou. Os problemas de saúde agravaram-se, até que, a 23 de janeiro de 1989, o artista faleceu, vítima de insuficiência cardíaca e respiratória.

O Túmulo de Dali foi concebido para dar a impressão de que o artista ingressou no próprio mundo. Localiza-se sob a cúpula do Museu-Teatro em Figueras, onde foi realizada sua primeira exposição, em 1919. O pano de fundo é um desenho para o Balé Labirinto (1942)

ARTE COMENTADA…

Salvador Dalí foi um dos pintores mais célebres e polêmicos do Século XX. Com habilidade extraordinária para o desenho, também explorou a escultura, a gravura, o desenho de figurinos para cinema, teatro e dança. Confira:

  • Autorretrato com pescoço de Rafael
Autorretrato com pescoço de Rafael .1920-21 . Óleo sobre Tela (41,5x53cm) – Fundação Gala, Salvador Dali. Figueras (Espanha)

Esta tela é uma homenagem a Rafael Sanzio, um de seus pintores favoritos. A pintura reflete a influência do impressionismo e mostra sua preocupação com a luz e a cor.

  • Personagem a uma Janela
Personagem a uma Janela. Salvador Dalí. 1925

Ao emoldurar sua irmã Ana Maria diante de uma janela, o pintor refletiu o cotidiano das mulheres da época, limitadas a um mundo “da porta para dentro”: a casa, seus afazeres domésticos e seus filhos. O mundo masculino, o do trabalho e da diversão, encontra-se “porta para fora” e as mulheres só o alcançavam pela contemplação. O quarto em que Ana Maria se encontra na pintura representava para Dalí a lembrança de uma visão constante da infância.

  • O Grande Masturbador
O Grande Masturbador. 1929 – Óleo sobre Tela (110x150cm) – Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofia, Madrid – Espanha

Essa é uma das obras mais representativas do movimento surrealista. É um testemunho do primeiro encontro do artista com Gala e do estado em que ela o teria deixado. A este encontro, que marcaria definitivamente a vida e a obra do pintor, segue-se um dos maiores delírios artísticos de Dalí. É uma espécie de autorretrato, que o artista repetiu em várias outras obras, e representa o estado de êxtase que ele dizia só ter experimentado depois que conheceu sua musa

  • Telefone-lagosta
Telefone-lagosta ou Telefone erótico (1936) – Plástico gesso policromado e técnica mista. Tate Gallery, Londres

Para Dalí, telefones e lagostas portavam conotação sexual entre comida e sexo. Apesar da inutilidade dos objetos surrealistas, o colecionador Edward James encomendou quatro aparelhos para sua casa de campo que funcionavam à perfeição.

  • Mae West utilizável como apartamento Surrealista
Rosto de Mae West. 1934-1935 Técnica: guache, grafite e colagem sobre página de revista ( 28,3 x 17,8 cm) Localização: The Art Institute, Chicago, EUA

Quando teve contato com Hollywood, Dali ficou conhecendo a atriz Mae West, uma das provocantes divas da época, carregada de “sex symbol”, que deixava os conservadores e puritanos vermelhos de vergonha com suas tiradas do tipo “Quando sou boa, sou ótima, mas quando sou má, sou melhor ainda.”.

Os cabelos longos, loiros e cacheados da atriz são usados como a cortina que dá acesso à sala. No centro do aposento está o sofá, que nada mais é do que sua boca fechada. As narinas, encostadas na parede vermelha, transformaram-se na lareira, que tem sobre si um enorme relógio de pêndulo. Os olhos transformaram-se em quadros com molduras similares, pendurados na parede.

  • O Sono
O Sono. 1937. Óleo sobre tela (51x78cm)

Essa é uma das pinturas mais emblemáticas do artista surrealista. A pintura ilustra uma cabeça mole e sem corpo, aparada por muletas durante o repouso. Para os surrealistas o período do sono era muito importante porque era durante esses breves instantes que se eles tinham acesso aos sonhos e ao inconsciente.

As onze muletas principais representam visualmente o colapso do corpo durante o sono. Considerando a ideia surrealista, quando dormirmos, só através do sono temos domínio do inconsciente ao sonharmos. As muletas dão equilíbrio delicado da figura e indicam que ela poderá despertar na ausência de uma delas, das onze que dão sustentação à ela. Isso mostra a nossa fragilidade durante o estado de sono.

  • O Enigma de Hitler
O Enigma de Hitler. Salvador Dali. 1938

Dalí utilizou a imagem de Hitler, como colagem ou pintura, em vários quadros dos anos 1930, que sempre lhe renderam reclamações dos surrealistas. Esse, com certeza foi o mais polêmico, embora o pintor defendesse que essas pinturas não continham conotação fascista, porque considerava a política um episódio da história. Porém reconheceu que viu na vida de Hitler um fenômeno surrealista.

  • Escultura

Escultura de Salvador Dali (1943), que nos remete a um detalhe de sua famosa pintura. Clique e saiba mais sobre sua pintura mais famosa: A Persistência da Memória

  • Galarina
Galarina. 1944-45 – Óleo sobre Tela (64,1 x 50,2cm) – Fundação Gala-Salvador Dali, Figueras (Espanha)

Presença constante em sua obra, Gala o introduziu no meio artístico parisiense e era quem controlava as finanças da família. Dali não era somente um apaixonado, mas completamente dependente dela. Isso refletiu em sua obra e esta é uma das inúmeras telas sob o mesmo tema. Assim como o pintor Rafael retratou sua Formarina, Dalí pintou sua Galarina. No quadro ela representa uma Eva vitoriosa, que já dominou a serpente e a carrega, domesticada, no braço. Ela é também, pela posição em que  seus braços se encontram o “cesto de pão” . Seu seio nu representaria a ponta de um pedaço de pão.

  • Cristo de São João da Cruz 
Cristo de São João da Cruz. Salvador Dali. 1951

Essa é uma das obras mais conhecidas, emblemáticas e aclamadas do pintor catalão. Para Dalí, a composição resume todos os seus experimentos anteriores. Assim, mais uma vez, a linha do horizonte marca dois mundos: o superior, correspondente ao divino; e o inferior ligado a terra. A perspectiva é de profundidade enorme, avalizada pelo tratamento pictórico do Cristo na cruz que remete às obras de outro mestre: Velázquez, a quem Dali admirava desde que vira suas pinturas no Museu do Prado, em Madri.

  • Dalí pintando Gala
Dalí de costas pintando Gala de costas eternizada por seis córneas virtuais provisoriamente refletidas por seis espelhos verdadeiros Salvador Dali. 1972-1973. Óleo sobre Tela (60,5 x 60,5) – Fundação Gala, Salvador Dali. Figueras, Espanha

Se um traço caracterizou a obra de Dalí foi sua eterna busca de novos desafios criativos. No início dos anos 1970, o pintor experimentou hologramas para captar a ilusão de uma pintura tridimensional. As limitações técnicas e a dependência da fotografia, porém, o fizeram abandoná-los em favor do estereoscópio.

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“Acredito que a Arte está em tudo no que nos rodeia, basta um olhar sensível para apreciar e usufruir das diferentes manifestações artísticas. A Arte é a grande e bela ilustração da vida.”