O Lavrador de Café, leitura da obra de Candido Portinari
Convido você a explorar a profundidade da obra “O Lavrador de Café”, uma das obras mais emblemáticas de Candido Portinari. Nesta pintura, Portinari retrata de forma magistral a dura realidade dos trabalhadores rurais no Brasil, destacando a dignidade e a força do povo brasileiro. Ao analisar “O Lavrador de Café”, você será levado a refletir sobre questões sociais, econômicas e culturais que permeiam a história do nosso país, além de apreciar a técnica e a sensibilidade únicas do artista.
Essa é uma importante pintura do artista brasileiro Candido Portinari em que ele usou o café para criar a composição, tema muito explorado em sua obra. De acordo com o Projeto Portinari, sobre esse tema, o artista pintou exatamente 56 obras envolvendo a mesma temática, sendo a pintura intitulada simplesmente como Café, sua obra prima.
Em “O Lavrador de Café”, Portinari apresenta a real atuação do trabalhador rural na lavoura do café. Com um céu coberto de nuvens, encontramos em primeiro plano um homem que sugere ser um trabalhador do campo, pois segura em uma das mãos uma enxada, um instrumento de trabalho típico braçal.
No quadro o modelo que aparece está bem mais musculoso do que o normal . A figura deformada com pés e mãos enormes é o que aproxima do pintor ao expressionismo .
A proporção aumentada no tamanho do corpo, era a forma que Portinari encontrou para evidenciar a importância de seus personagens retratados. Aqui por exemplo, o trabalhador brasileiro. Essa deformação expressiva, notadamente a dos pés e das mãos de grandes figuras dramáticas e comoventes pode ser considerada uma das características marcantes do pintor. Pode-se mesmo comparar o tamanho das mãos e dos pés com o tamanho da cabeça. Destaca-se também a enxada em sua mão direita, com a base de tamanho exagerada, assim como seus pés e mãos. As calças brancas do lavrador contrastam com o chão escuro. Sobra pouco espaço acima e abaixo do lavrador, no quadro.
A árvore decepada, a direita conota desmatamento, fim da mata natural. É a mudança da paisagem proporcionada pela cultura do café. Em segundo plano, aparecem os montes dos grãos já colhidos. A iluminação ressalta os picos dos montes, na cor amarelada. Entre eles, um dos montes aparece na cor verde e nele estão presentes algumas arvorezinhas. Ao fundo temos inúmeras figuras de pés de café, tanto na superfície plana como nos morros. Percebe-se que parte das plantações dos pés de café já está indo em direção ao espaço reservado para seleção e ensacamento. Com esses detalhes, percebe-se a superprodução ai registrada. O olhar do lavrador é expressivo e nele predomina a preocupação. Tem-se a impressão de que ele sente a ação devastadora da exploração que o homem faz na natureza.
Quando observa-se esses detalhes que compõem o quadro, começamos a entender o efeito da figura do lavrador que de imediato se destaca na paisagem. A cena que é colocada numa colina da qual se vê uma extensa e longínqua paisagem com uma faixa de céu ao fundo, destaca a parte superior do lavrador.
A grande plantação que se estende para além da colina é relativamente pequena em contraste com o tamanho do lavrador.
Outro elemento presente no quadro é o trem, colocado entre os pés de café e os montes de grãos. Sabe-se que era o meio de transporte utilizado para enviar a produção cafeeira até Santos para ser exportada aos diversos países, em especial, aos Estados Unidos.
Há uma discrepância na datação de O Lavrador de Café. Segundo a ficha técnica do Masp (Museu de Arte de São Paulo), ela é de 1939, enquanto no site do Projeto Portinari, que tem à frente o professor João Cândido Portinari, filho do artista, a obra seria de 1934.
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