Pintura e Poesia na Arte de Joan Miró

Joan Miró em seu estúdio

Como se fosse um mágico, Joan Miró cria símbolos em seus quadros e nos convida para uma observação enigmática . Nascido em 1893 na Catalunha, ele é conhecido por sua arte viva e rica em fantasia. Muitas vezes, ele foi além, unindo suas pinturas à poesia. Dizem que o artista lia sempre um poema antes de pintar. Comentava sempre que fazia isso, para colocar sua criatividade em funcionamento.

As cortinas de sua biblioteca eram preenchidas de livros até o teto, não podiam ser abertas para a luz não danificá-los. No período entre  1917 a 1923, os volumes serviriam de motivo para suas pinturas influenciadas pelo dadaísmo.

Miró mudou-se para Paris em 1920, viveu nove anos na famoso local de encontro dos vanguardistas, na famosa Rua Blomet.  Lá conheceu André Masson e alguns surrealistas como André Breton, Paul Éluard e outros. Algumas amizades duraram anos. Com Éluard, Miró publicou e ilustrou um livro de arte em 1958.

Livro de Arte de Paul Éluard ilustrado por Joan Miró
O nascimento do mundo. Joan Miró. 1925

Até 1920, Paul Cézanne, os fauvistas e os cubistas foram suas principais influências. A composição rigorosa de suas pinturas, se vê na disposição das letras. Ele copiava versos inteiros de poemas de seus autores favoritos ou citava a revista de vanguarda “Nord- Sud”. Apesar disso, Miró evitou  os ditames da escrita automática dos surrealistas.

Joan Miró pintava o dia inteiro. Seu neto Juan Miró Puynet conta que até o sono fazia parte do processo de criação do avô. As imagens que apareciam nos sonhos eram fonte de inspiração. Além das pinturas e esculturas, ele escrevia seus próprios poemas e os inseria em versos nas composições das obras.

Depois de transitar pelo fauvismo e cubismo, o artista passou a realizar composições surrealistas, com justaposições desordenadas de camadas de cores e de objetos estilizados.

Por muito tempo, a relação de Miró com a poesia passou despercebida. Se não aplicasse letras em seus poemas visuais, lançava mão de seu próprio vocabulário, cheio de enigmas como: estrelas, escadas para o céu, olhos, cobras. Uma liberdade de criação que teria forte impacto sobre pintores americanos, ou mesmo sobre seu conterrâneo catalão Antoni Tàpies.

A linguagem de Miró sofreu uma mudança significativa em sua fase tardia. Traços cósmicos revelam o amor pela natureza. A lua, as estrelas e o sol eram motivos recorrentes, assim traços e formas que lembram símbolos japoneses.

A Canção do Rouxinol à meia-noite e a chuva da manhã. (Série Constelações). Joan Miró. 1940

Em 1975, Miró ilustrou o “Cántico del Sol” (Canção do Sol) uma oração de São Francisco de Assis de 1225. Para o artista, tratava-se de um símbolo da união entre o homem e a natureza. Miró professou a fé católica e conhecia muito bem a Bíblia, então não foi surpresa que ele tenha feito uma ilustração poderosa em seu estágio mais maduro. A linguagem de Miró neste trabalho é bastante abstrata, os elementos são muito simples, mas de uma forte coloração e basicamente primários.

Càntico del Sol

Em cerca de setenta anos da carreira artística de Miró, o pintor passou por vários estilos. Embora ele seja mais lembrado como surrealista, suas primeiras pinturas retratam a vida rural do Mediterrâneo, até chegar a um terreno mais conceitual e ligado mais à cor.

É fascinante ver a evolução deste artista ao longo do tempo. Ele foi genial e soube viver e acompanhar a época de grandes transformações, o mundo estava mudando e isso refletiu em sua obra.

Pintura e Poesia de Joan Miró
“Acredito que a Arte está em tudo no que nos rodeia, basta um olhar sensível para apreciar e usufruir das diferentes manifestações artísticas. A Arte é a grande e bela ilustração da vida.”

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