Análise da pintura Guernica, Pablo Picasso

Considerada uma das mais importantes obras produzidas no século XX, Guernica, de Pablo Picasso, não é somente uma pintura; é um documento histórico. Em determinado momento ela fala sobre si e nesse momento podemos identificar traços de uma época distante, analisar aspectos políticos, culturais e sociais de um período conturbado.

– Qual a mensagem que o pintor quis passar??? Ele foi definitivo em seu poema onde relata os horrores que retratou nessa tela:

“Gritos das crianças, gritos das mulheres, gritos dos pássaros, gritos das flores, gritos das camas, gritos das árvores e pedras, gritos dos tijolos, dos móveis, dos carros, das cadeiras, dos cortinados, das panelas, dos gatos e do papel, gritos dos cheiros, que se propagam um após o outro, gritos do fumo, que pica nos ombros, gritos que cozem na grande cadeira, e da chuva de pássaros que inundam o ar.”

No início de 1937, em plena Guerra Civil espanhola, o mestre do cubismo Pablo Picasso, recebeu como encomenda do governo republicano de Madri um afresco destinado ao Pavilhão Espanhol na Exposição Internacional, celebrada naquele ano em Paris. Mas Picasso, em suas próprias palavras, atravessava “a pior época” de sua vida no campo pessoal e artístico. No fim de abril, quando ocorreu o bombardeio de Guernica , o artista estava sem inspiração, até ficar sabendo do ocorrido.

Toda expressão artística está profundamente ligada à História. Na tela, o artista deposita toda sua consternação. A obra, ainda atual, está presente na memória da humanidade.

Para entender melhor essa pintura, primeiro é necessário saber o que acontecia na época em que o artista pintou essa obra prima:

Em 1936, Hitler firmou um pacto de amizade e cooperação com a Itália de Mussolini. Alemanha e Itália intervieram na guerra civil espanhola, auxiliando as forças totalitárias do General Francisco Franco, que lutava contra a república espanhola, representante das forças populares. Auxiliando Franco, o nazismo pode testar suas armas na Espanha, ensaiando ações militares que seriam empregadas na II Guerra. A Alemanha usou a cidade de Guernica como teste, massacrando sua população. No dia 26 de abril de 1937, os bombardeiros da Legião Condor reduziram a cinzas a cidade basca de Guernica. O ataque aéreo, que durou apenas três horas, custou a vida de 1.645 pessoas civis inocentes.

A notícia da tragédia, durante o desfile de 1º de Maio de 1937, em Paris, foi a inspiração que Picasso buscava. Imediatamente o artista pegou os pincéis, sob o olhar atento de sua companheira, na época a fotógrafa Dora Maar. O violento episódio ficou eternizado no quadro-denúncia de Picasso, que mostra os horrores desse bombardeio.

Pablo Picasso estava sempre atento às injustiças sociais. Engajado, combateu o franquismo e o nazismo. Quando recebeu a visita de um representante da embaixada de Hitler em Paris, quando na ocasião da exposição no Pavilhão da República e esse observando a pintura lhe perguntou se Guernica era obra sua, Picasso respondeu: Não, a obra é de vocês!

ANÁLISE DA OBRA

Uma obra de arte para um artista moderno como Picasso, cumpre sempre uma função social.

Guernica - Pablo Picasso

Guernica. Pablo Picasso. 1937. Óleo sobre Tela (3,49 m x 7,77 m) – Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofia (Madrid, Espanha)

Ao observarmos a tela deparamos com figuras que expressam aflição, dor, insegurança, sofrimento, como a mulher com a criança no colo e o cavalo. Picasso usou somente cores neutras, pois não poderia optar por cores vivas com tanto horror e a destruição causados pela guerra. Algumas figuras como a flor, o touro e a mão que segura uma lamparina, são símbolos que estão carregados de significados, que nos remetem à interpretações diversas.  São figuras que no conjunto da obra nos dão a ideia da luta, da violência no vilarejo e ao mesmo tempo representam o recomeço, a esperança de um povo que foi massacrado.

Muitos historiadores acreditam que o homem de braços abertos que encontra-se do lado direito superior da tela, Picasso tenha se inspirado em uma pintura de Goya, pintor também espanhol que em 1808 pintou O Três de Maio, onde retrata uma circunstância trágica acontecida na Espanha, o fuzilamento de civis espanhóis realizado nas ruas pelo exército de Napoleão Bonaparte.

Guernica - Pablo Picasso - Três de Maio de 1808

O Três de Maio de 1808. Francisco de Goya. 1814. Óleo sobre tela (2,68x 3,47m)  – Museu do Prado, Madrid (Espanha)

Analisando as duas obras, podemos estabelecer uma analogia, na semelhança entre as pinturas, mas com um detalhe: em Guernica, os braços do homem estão direcionados para cima, na tentativa de deter as bombas que estão caindo do céu, em desespero. Já Goya faz uma referência a Jesus Cristo que morreu também de  braços abertos, ele mostra que as injustiças sociais se repetem.

Embora o pintor tenha ressaltado o caráter realístico da cena, não se pode duvidar de que se trata, também, de um convite ao surrealismo. Alguns estudiosos defendem que Guernica pertence ao expressionismo, ou, como Picasso preferiria, uma viagem pelo realismo com toques de metáfora.

A pintura ficou exilada por mais de quarenta anos em Nova York, a pedido de Picasso enquanto Franco estivesse no poder, a tela só voltou à Espanha em 1981.

 

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foi mais que o maior artista moderno – ele e sua obra multifacetada encarnam o próprio espírito do século XX.  Cosmopolita, iniciou no impressionismo francês, na pintura figurativa espanhola e na arte primitiva africana. Múltiplo, pintou, esculpiu, fez litogravuras, cenários de balé e ainda arranjou tempo para inventar o Cubismo e namorar… A cada nova paixão, sua arte ganhava um novo impulso, assim podemos considerar sua obra como autobiográfica.

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por Roseli Paulino – @arteeartistas

 

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