O Friso Beethoven de Gustav Klimt

Em 1902, o Palácio de Secessão abrigou uma exposição que resumia a filosofia do movimento. No centro da mostra localizava-se uma escultura dedicada a Ludwig van Beethoven feita pelo artista alemão Max Klinger: Representado como o Zeus do Olimpo, Beethoven era o símbolo do artista herói.

Escultura de Beethoven feita pelo artista alemão Max Klinger (1857-1920)

O  arquiteto Josef Hoffmann acondicionou o interior do edifício, criando um espaço semelhante ao de uma basílica, com uma nave central – ocupada pela monumental estátua feita por Klinger  – e duas salas laterais. Em uma delas, Gustav Klimt expôs O Friso Beethoven.

Foto - O Friso Beethoven de Gustav Klimt

A obra estendia-se por três paredes e consistia em uma alegoria sobre a busca da felicidade, baseada na interpretação que Richard Wagner fez da 9a. Sinfonia de Beethoven. O primeiro painel (na parede esquerda) representava A Aspiração à Felicidade; o segundo (central), As Forças Inimigas; e o terceiro (na parede direita), Alegria, Nobre Centelha Divina.

As Forças Inimigas ocuparam a parede estreita da sala. O catálogo descrevia a cena do seguinte modo: “Parede estreita: As Forças Inimigas. O gigante Tifeu, contra quem os deuses lutaram em vão; suas três filhas, as Górgonas. A doença, a loucura e a morte. A luxúria, o impudor; a desmesura. Aflição contínua. os anseios e os desejos da humanidade voam por cima e além deles”.

Esta seção da monumental pintura é a mais barroca de todo o conjunto. Para justificar seu título, Klimt reuniu aqui os elementos mais sinistros do friso. É o mais complexo e colorido dos três painéis e o que despertou as mais coléricas críticas pela falta de pudor das figuras femininas.

A peça se estrutura em torno da brutal figura de Tifeu. Este é representado por um gigantesco símio – símbolo da perversão libidinosa e uma menção às teorias darvinistas. A criatura desdentada e com olhos esbranquiçados parece fixar o olhar no espectador. Para a direita esticam-se suas gigantescas asas e suas poderosas pernas. Estas são por fileiras de cobra – inspiradas em Pecado (1893), de Franz von Stuck, no qual uma grande serpente descansa  sobre os ombros de uma inquietante Eva -, atributos  relacionados ao Mal.

A Aflição - O Friso Beethoven de Gustav Klimt
Afastada do vistoso ornamento dourado que rodeia Tifeu e seu séquito, a Aflição aparece monocromática e envolta num véu cinza cercada pelos símbolos do pecado – as fileiras de serpente. Simboliza a profunda tristeza e a dor que corrói a quem padece diante das forças do mal.

À esquerda de Tifeu estão as filhas Górgonas. Apesar da atraente feição física, os olhares enviesados e as serpentes douradas nas abundantes e atraentes madeixas negras advertem sobre sua periculosidade.  Acima delas emergem rostos terríveis correspondentes à Doença, Loucura e Morte, rodeadas, por sua vez, de outras horrendas  máscaras.

Doenças - O Friso Beethoven de Gustav Klimt
DOENÇAS – Os monstruosos rostos que aparecem sobre as Górgonas são identificados com a Doença, a Loucura e a Morte. Para sua representação, Klimt inspirou-se nos sintomas das doençassexualmente transmissíveis, às quais ameaçavam o pintor, como a maioria de seus contemporâneos

À direita de Tifeu posiciona-se outro grupo formado pelas figuras nuas da Luxúria, da Voluptuosidade e da Intemperança – representada por uma mulher obesa suntuosamente ornamentada -, entre sinuosas formas douradas inspiradas no decorativismo da artista britânica Margaret Macdonald. Entre as fileiras de serpente, aparece a Aflição, uma figura de mulher de longos cabelos pretos, envolvida em um escuro véu transparente, que simboliza a tristeza. No extremo superior direito nota-se a presença de uma das figuras flutuantes que representam os anseios da humanidade. À exceção de Tifeu, o painel é dominado por figuras femininas, as quais Klimt identifica com as forças do mal.

1 - O Friso Beethoven de Gustav Klimt

Assim como em Filosofia e Medicina,  aqui voltam a se acumular as figuras. A obra despertou a ira do público e da crítica pelas mulheres nuas que mostram os pelos pubianos, consideradas pornográficas. Em visita a Viena, o escultor francês Auguste Rodin (1840-1917), por sua vez, elogiou o trabalho, que qualificou como “trágico e imponente”.

Considerada uma obra temporária, concebida unicamente para a exposição, Friso Beethoven esteve a ponto de ser destruído junto com outras obras de caráter decorativo. Por fim, um colecionador adquiriu o trabalho e desmontou-o para preservá-lo. Em 1970, o Estado austríaco adquiriu a obra e restaurou-a

AS OUTRAS CENAS

Além de As Forças Inimigas, O Friso Beethoven tem outros dois painéis maiores e mais sóbrios:

A Aspiração à Felicidade, que simboliza a débil humanidade, apresenta o Homem forte, encarnado por um cavaleiro dourado, a Ambição e a Compaixão

2 - O Friso Beethoven de Gustav Klimt

Em Alegria, nobre centelha divina, o ser humano encontra o amor puro, simbolizado no beijo final.

Alegria - O Friso Beethoven de Gustav Klimt
Alegria, nobre centelha divina

O FRISO BEETHOVEN

Ano: 1901/1902
Técnica: Cor de caseína sobre fundo de estuque, com inserção de folha de ouro e pedras semipreciosas.
Dimensões: 215 x 630 cm
Localização: Österreichische Galerie Belvedere, Viena, Áustria

“Acredito que a Arte está em tudo no que nos rodeia, basta um olhar sensível para apreciar e usufruir das diferentes manifestações artísticas. A Arte é a grande e bela ilustração da vida.”

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